No início, achei que fosse um mal-estar qualquer, destes que dão de vez enquando mesmo, como uma tontura, respiração rápida, vontade de sair dali e ir pra outro lugar, enfim, pensei que fosse apenas uma 'energia ruim' daquele lugar.
Só que, mesmo após ir embora, cumprindo todos os procedimentos de tentar retornar a normalidade, ainda continuei com a sensação de que algo não está bem, e que talvez, só piore. Tais procedimentos, só pra que se possa entender melhor, dizem respeito ao fluir de minhas energias, a troca com o mundo que me cerca e a maneira que me deixo penetrar pelas influências externas: desde um simples pedido de uma pizza, passando pela freqüência de acesso a internet, pisar no chão, escolher o programa de televisão, até mesmo, atender ou não alguns telefonemas. Enfim, todas as coisas que podem de certa maneira contribuir para meu estado/consciência de que algo não está bem, e como já disse, de que pode piorar - e o quanto minhas escolhas/atitudes podem influenciar nesse processo.
E piorou. Antes mesmo que eu pudesse entender o que era, ou porque, ou quanto desse sentimento já estava em mim, foram acontecendo uma seqüência de fatos que me transtornaram ainda mais. Meus pensamentos agora estavam, assim como eu, aflitos. Estava em busca de coerência para tais pensamentos - coisa típica do ser humano, encontrar coerência, equilíbrio, padrões nas coisas - mas, pela situação sentida (ou criada, não sei), tais pensamentos ou sentimentos ou reflexos já não tinham mais uma linha aparente de conexão entre eles, e quase sempre se perdiam ou se direcionavam para um abismo, que me trazia um certo arrepio de medo pela sua natureza.
É como uma onda de incertezas, na qual você precisa se equilibrar em cima de uma tábua segura de lembranças da realidade de outrora (realidade essa que passa a ser questionada) para que não se afogue em um mar de desespero e solidão. E caso não se equilibre direito, podem acontecer coisas de tirar o fôlego. E aconteceram.
Foram saindo do tecido nervoso e tomando forma, e nome, e até mesmo personalidade. De dentro de mim surgiram dragões e anjos. Sol e Lua saíram de órbita e brigavam pelo mesmo espaço. O obscuro estava a mostra, ao lado do arco-íris, ou talvez a baixo dele. Não era o bem e o mal, era apenas eu comigo mesmo. E em meio a todas essas dualidades pessoais, houve um indício de consciência que ameaçava surgir de algum lugar para esclarecer melhor e refazer as conexões.
Era um momento para conectar, e não de separar essas dualidades. Um momento de ouvir o grito, muitas vezes silencioso, de dentro da alma e permitir que esse grito tenha voz e seja ouvido. Se causa desconforto? Sim, e muito! Até mesmo físico. Ora, se somos resquícios de poeira cósmica, ainda somos poeira. Estamos conectados com tudo e com todos. A energia em descompasso de um pode alterar (e altera) o universo ao seu redor. Mas é preciso trocar as cascas e se adaptar ao mundo que se tem em volta. Digamos que seja um processo necessário, que as vezes pode ser doloroso.
Quando percebi isso tudo, o que antes era um indício de consciência, agora já tinha tomado forma e já havia tratado de desanuviar os tais pensamentos. E foi aí que percebi o que de fato aconteceu:
Eu quis um presente para esse ano novo. Eu quis um mundo diferente, uma vida diferente e o Universo ouviu e tratou de cuidar disso pra mim. Só que é preciso mudar também para poder receber esse presente. Não podemos querer o novo se continuarmos com os mesmos padrões, conexões e procedimentos. Há que se pagar o preço de seus sonhos ou desejos, e o auto-conhecimento é um preço alto, que muitas vezes não estamos preparados para pagar.
Se queremos sair do lugar, basta dar o primeiro passo. E depois vem outro, e outro, e outro... Se eu mudo o foco, eu mudo também. O foco muda e eu mudo. E daí já não somos mais os mesmos. Sei que eles estão ali, dentro e fora de mim, as minhas dualidades e pensamentos. Mas como eu disse: já dei o primeiro passo. Se valeu a pena?
O Universo vai me responder.
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